Na moldura do olhar, um vazio tão antigo,
Como se a minha essência fosse um erro intrínseco.
Faço das mãos um relicário de gestos perfeitos,
Mas a verdade se esconde nos becos estreitos.
São os ecos do não-dito,
Que me guiam ao precipício,
Onde o amor, feito sombra,
Se dissolve em artifício.
Eu não sou o que esperavam, sou a rachadura no espelho,
A peça que não encaixa no tabuleiro sem conselho.
Busco em vão o calor do seu afeto austero,
Mas tudo que encontro é o gelo de um inverno eterno.
Ergo-me contra a maré de expectativas alheias,
Cada tentativa, um fio que corta minhas veias.
Talvez seja o destino dos filhos incompreendidos
Ser o poema rasgado nos cantos esquecidos.
Ah, que ironia vil,
Aplaudir a obra incompleta,
Quando o criador, tão hostil,
Sequer a aceita.
Eu não sou o que esperavam, sou a rachadura no espelho,
A peça que não encaixa no tabuleiro sem conselho.
Busco em vão o calor do seu afeto austero,
Mas tudo que encontro é o gelo de um inverno eterno.
[um piano melancólico, um ritmo crescente de tambor, como passos em direção a um destino inevitável
Se a aprovação é um horizonte que recua,
Por que persisto em marchar sob esta lua?
Talvez seja tempo de queimar o mapa,
De encontrar o meu norte na própria etapa.
Eu não sou o que esperavam, mas já não importa,
Sou o vento que escapa pela janela entreaberta.
O amor que preciso não é bênção distante,
É chama que vive em mim, vibrante e constante.
Na moldura do olhar, eu me torno infinito,
Não há mais vazio — há um verso reescrito.